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segunda-feira, 17 de janeiro de 2011

Cine Belas Artes - Um pouco da história paulista ameaçada

Com a noticia de que o Cine Belas Artes iria ser fechado, um filme passou na minha cabeça, talvez um curta metragem, assumo que não fui muitas vezes mas, mesmo assim, as poucas visitas foram marcantes. Seja pelos filmes, amigos, beijos, lagrimas ou risos. Eu vivi o Belas Artes.

Tinha de ir! Não por um prazer mórbido e não que minha presença agora me redimisse das vezes que não fui. O sentimento que me tomou foi de me despedir de um local... não... de um amigo . O sentimento que tive foi ao de comparecer a um velório.

O clima era outro, o cine estava mais vivo que nunca! Ele nunca pareceu um decadente cinema de rua. Sempre foi um lugar simples mas belo. A fila estava lotada, muitos filmes esgotados, muita gente chegando, saindo e vivendo o Belas Artes. O motivo do fechamento não é a falta de publico e sim a preferencia do dono do prédio em transformar o lugar em loja.

De repente o barulho de apitos e gritos tomou a fachada. Pessoas contrarias ao fechamento se manifestavam e neste momento fiquei extremamente comovido .Me perguntei o motivo de não estar junto com elas. Desinformação não é desculpa e sim culpa.

Quando fui atendido pela bilheteria que, curiosamente, não possui aquele vidro que separa atendente de espectador e muito menos microfone que faz todos falarem com voz de Darth Vader, a simpatia foi a de sempre, exceto por um cantinho de tristeza naquele sorriso, afinal, todos os funcionários já estão de aviso prévio.

Sentei na terceira fileira de baixo pra cima do filme “O Concerto” (Sinopse e breve critica abaixo). Como cheguei cedo, lá permaneci sozinho, encarando a sala por algum tempo. Logo começa a exibição dos trailers e a projeção, apesar da pequena tela, estava perfeita e não como em alguns cinemas de shopping que a imagem passa da tela, vazando nas paredes ou cortinas.

Muitos dos trailers eram de anúncios do governo. Lembrei do assunto tombamento. Não sou favorável a que tudo que envolva cultura seja subsidiado pelo governo, o Belas Artes era prova de que é possível aliar qualidade e publico. Se for pra precisar de subsidio prefiro que o façam no transporte publico de São Paulo, que custa três reais, mas concordo que este local é mais do que um cinema, é a história desta cidade. Existe também a urgência, sendo que, a única salvação para esta situação é o tombamento do prédio.

Ri, chorei e ao fim do filme encarei algumas pessoas que assistiram a mesma sessão. Alguns enxugavam as lagrimas, outros comentavam sobre o filme e uns casaizinhos trocavam beijo e caricias. Eles estavam vivendo o Belas Artes.
Sai do cinema e olhei para a sua fachada. Vão fechar a Sala Villa Lobos, a Candido Portinari, a Oscar Niemeyer, a Aleijadinho, a Carmem Miranda e a Mario de Andrade para abrir uma droga de loja. Quem em sã consciência vai comprar numa loja que matou um pouco da história paulista. Talvez muitas pessoas, talvez ele estejam certos em apostar na falta de memória do povo , talvez por isso alguém deveria manter um lugar que resgata a memória, seja esse alguém da iniciativa publica ou privada.

Olhei para aquela fachada que ainda exibia orgulhosamente o dizer “desde 1952” e desejei o que normalmente acontece no cinema... um final feliz.

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